O que o meu casamento me ensinou sobre o poder da amizade feminina
Eu me separei seis meses depois de casar, e acho que precisei de toda a cerimônia nada convencional do meu casamento para me sentir segura pra separar. No meu casamento, e antes dele, e também depois, eram mulheres que estavam ao meu lado, o que tornou todos os meus movimentos possíveis.
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No lugar do clássico casal de padrinhos, todas as minhas amigas entraram sozinhas, vestidas de branco, como eu; e cada uma com um ramo de flor que, ao final da cerimônia, foram unidas no buquê entregue a mim. Eu não queria disseminar a ideia de que uma mulher só é completa se tiver um homem ao lado, e não queria ser a única de branco, como se por casar, eu fosse especial. As minhas amigas eram extensão de mim, e eu delas; estávamos todas juntas. Entrei naquele casamento sendo muitas, carregando a força das minhas amigas, sendo o jardim que cultivou as flores que elas plantaram. E ali, naquele casamento em que só encontrei dor e violência, foi muito claro saber que eu tinha um espaço seguro para voltar: o colo das minhas amigas.
Mas, e se não tivesse nada disso? E se eu tivesse caído na armadilha da cultura da rivalidade feminina, que ensina que outras mulheres competem entre si, que têm inveja umas das outras?
Desde pequenas ouvimos que temos que ser a mais bonita, a mais inteligente, a mais boazinha; como se houvesse um ranking que premiasse quem são as melhores mulheres e punisse todas as outras com solidão e rejeição. Quando começamos a entrar na gramática afetiva e amorosa, mais uma vez, o fantasma da rejeição nos assombra, porque somos ensinadas que se não formos bonitas, jovens, magras e boazinhas, seremos trocadas por outra mais bonita, mais jovem, mais magra e mais boazinha.
A premissa cultural da rivalidade feminina aponta que a ameaça é uma outra mulher, quando, na realidade, os dados mostram que, na experiência feminina, são os homens quem nos violentam, nos agridem, nos abandonam.
Sendo assim, será que não é chegada a hora de percebermos que, na verdade, todo o incentivo a essa competição entre mulheres não é uma estratégia de dominação masculina para que a gente não potencialize juntas a nossa força? Para que a gente não compartilhe as nossas experiências e perceba que aquilo de que sofremos não é nossa culpa? Será que todo esse clima que diz que a outra mulher é uma inimiga não serve justamente para que a gente se mantenha em silêncio e não perceba a força que temos quando estamos juntas?
Todas as vezes que eu me agrupei com mulheres para compartilhar experiências, desde truques de beleza e conselhos amorosos, eu saí com mais esperança na vida, e mais noção do meu tamanho e do meu valor. Toda vez que eu vibrei por ver uma mulher realizando os próprios sonhos, eu tive mais coragem de realizar os meus também. Todas as vezes em que eu me inspirei numa mulher, eu pude olhar pra mim com outros olhos e enxergar beleza em mim, ali onde eu só via estranheza e inadequação.
O poder da amizade feminina é revolucionário. É a amizade entre mulheres que nos salvará das armadilhas feitas para nós e, se o amor é a cura, o amor-próprio nasce no jardim da amizade feminina, pode acreditar.