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The Simple Talks: Renata Kalil

No episódio de The Simple Talks de hoje, falamos com Renata Kalil, colunista da Vogue, sobre sua relação com a sustentabilidade, veganismo, vida na Califórnia e muito mais. Renata conta com 11 anos de experiência no jornalismo e já foi editora de beleza na revista Glamour, e também já atuou como diretora de branded content de diversas publicações Condé Nast como Vogue, GQ e Casa Vogue. Na conversa de hoje, ela divide um pouquinho de suas experiências com a gente. 

Time Simple: Hoje a gente vai falar com a Renata Kalil, ela é colunista da Vogue e fundadora da Reset Beauty Care, instagram com o propósito de efetuar uma curadoria especial de produtos livres de crueldade animal e incentivar o consumo consciente. 

Renata Kalil: Vamos lá! Eu sou a Renata, sou jornalista, com 11 e um pouquinho mais anos de experiência. Durante toda a minha carreira eu me dediquei à beleza, e aí os últimos 4 anos, desde que eu me tornei vegana, passei a me dedicar a pauta do consumo consciente e a beleza livre de crueldade animal. Basicamente essas se tornaram as grandes causas para mim: o fim dos testes em animais na indústria dos cosméticos, o veganismo e a sustentabilidade. Trabalhei minha vida inteira na Condé Nast, entre Glamour e Vogue como editora de beleza, no último ano trabalhei um pouquinho no comercial, como diretora de branded content da Condé Nast também, a frente de todos os títulos da casa, Vogue, Glamour, GQ e Casa Vogue, que era um desejo muito grande meu, trabalhar com marcas, trabalhar com comercial e tudo mais. Hoje me dedico a criar conteúdo sobre esses temas, e sou colunista da Vogue há quase 2 anos, também para escrever sobre esse tema. 

"Basicamente essas se tornaram as grandes causas para mim: o fim dos testes em animais na indústria dos cosméticos, o veganismo e a sustentabilidade".

Time Simple: E como começou essa sua preocupação em relação à sustentabilidade? Como isso acabou se tornando seu estilo de vida?

Renata Kalil: É curioso porque a minha mãe é dessa área e o meu primeiro trabalho no jornalismo foi com a Lilian Pacce, ela é a grande referência de moda que fala de sustentabilidade desde sempre. Então eu sempre tive esse contato com figuras importantes na minha vida que falavam sobre sustentabilidade, mas eu nunca me liguei tanto, não engajei nisso até que eu me tornei vegana há 4 anos. (...) Acho que quando a gente começa a pesquisar, a entender o processo, ele se torna um caminho sem volta, e é um eterno processo. Hoje tem uma história de "ah você é super evoluída, você é vegana" e eu não acredito muito nisso. Acho que todos estamos juntos nesse processo independente de comermos carne, queijo, enfim o que quer que seja. Hoje quando eu olho para tudo que eu tenho que mudar ainda, para me tornar uma pessoa de impacto mínimo ambiental, ainda tem muita coisa que eu preciso fazer. Então a cada conquista eu vejo que ainda tem várias outras conquistas a serem feitas. Mas então, te respondendo, foi através do veganismo.   

Time Simple: É e esse processo, pelo menos pra mim que sou vegetariana e não vegana, é a partir de quando você tem um clique na sua cabeça de como esse movimento pode permitir uma mudança tão grande, você não volta mais atrás. E aí é só evoluindo mesmo. 

Renata Kalil: Total! E eu acho também que com o avanço da crise climática, a ONU até se refere hoje a crise climática como um estado de emergência, então a gente saiu da crise e entramos num estado de emergência climática. Isso também começou a deixar muito mais claro para todo mundo que o veganismo é um sinônimo de sustentabilidade e vice-versa. Então não dá para você falar de um tema sem falar do outro, eles estão realmente muito associados. 

Time Simple: Nós estávamos falando sobre como é ligado a questão do consumo exacerbado de roupas, essa tendência muito grande de consumir fast fashion. Muitas pessoas não passam pelo processo de se perguntar porque elas estão consumindo, é só sobre consumir. E isso está muito ligado ao consumo de carne e seus derivados, a desigualdade social, veganismo, tudo se conecta. 

Renata Kalil: Concordo super! Eu tenho 36 anos, e acho que a minha geração cresceu meio desconectada da política assim "ah não preciso me preocupar, isso nunca vai me afetar". E hoje a gente entende que vai afetar sim! E nem só por conta da pandemia, bem antes. Então a ascensão por exemplo, do Donald Trump e do Bolsonaro, a gente entendeu como um momento muito cruel para o mundo né, na minha visão, e a gente viu dois líderes globais importantíssimos, que negavam, e ainda negam, o aquecimento global. E aí quando você tem esses cenários, você pensa "meu deus do céu, em que mundo estou vivendo?". E aí eu acho que isso atrasou o nosso ativismo por muito tempo, porque aí você tem que convencer as pessoas de que a Terra é redonda (risos), é um atraso muito grande. Isso sem nem chegar na pandemia. Acho que isso fez com que a gente mergulhasse ainda mais profundamente em temas importantes, como a sustentabilidade. É exatamente isso que você falou, tudo está super conectado. 

Time Simple: Sim! Quando o Trump foi eleito nos Estados Unidos, ele saiu de vários acordos climáticos importantíssimos. E isso mostra para as pessoas, por mais que você não apoie o presidente, que "ah se ele não presta tanta atenção, não tem porque eu prestar atenção, não tem porque eu me preocupar". E aqui com o Bolsonaro, nós vemos a mesma coisa. A falta de preocupação com o meio ambiente principalmente, faz com que seja difícil a gente avançar num país no qual nem o presidente leva a sério.

 Renata Kalil: E no nosso caso, nosso presidente ainda está destruindo né. Enfim… (risos). Eu sinto que o próprio veganismo, e as discussões em torno da sustentabilidade também surgem em resposta a isso, né, a esse cenário global. Talvez se não existisse isso tudo, eu não sei se a gente, enquanto coletivo, teria essas pautas tão latentes. Eu acho que também tem muito a ver com o contexto que a gente vive no mundo, e isso é muito interessante.

Time Simple: Aproveitando esse gancho que você puxou sobre o Trump, qual é a principal diferença que você vê dos Estados Unidos para o Brasil? (...) Você acha que há uma diferença muito grande entre a relação dos dois países com a sustentabilidade?

Renata Kalil: Então, a minha experiência é muito voltada para a Califórnia, que é onde eu moro, em Los Angeles. Na Califórnia, a grande diferença é que existe uma cultura da sustentabilidade, uma cultura voltada para o meio ambiente, consumo consciente, veganismo e tal. Então para uma marca, voltando para o nosso universo da beleza, é normal você ser orgânico, ser livre de crueldade animal. Até pega mal você não ser, então é realmente um outro contexto. Ao mesmo tempo, Estados Unidos não é isso, é o consumo desenfreado, o capitalismo selvagem, o uso de descartáveis e tudo mais. É curioso porque muitas vezes você acaba saindo de uma esfera e entrando em outra a todo momento. Tem a história da Califórnia que é muito forte, e tem a história dos Estados Unidos, o que é um grande paradoxo. Mas acho que a grande diferença é a cultura, e ela é bem forte. 

Time Simple: Até pela maneira como os californianos vivem, é uma loucura comparar a outras áreas do país. Os restaurantes, marcas de beleza, você realmente não diz que fazem parte dos Estados Unidos. E aí é engraçado pensar como eles conseguiram criar essa cultura, né? Fazendo parte do maior país capitalista. Enquanto aqui no Brasil nós não temos um estado que se destaque nesse cenário sustentável. 

 Renata Kalil: Eu associo muito esse estilo de vida com a presença artística da Califórnia, Hollywood e tudo mais. Acho que essa indústria de Hollywood por reunir diversos artistas, o Vale do silício com várias pessoas pensando em tecnologia e no futuro… Eu acho que isso é tão difundido que isso atrai um monte de gente que, por consequência, pensa num mundo diferente. A arte é muito importante pra gente, né. E aí de novo, no Brasil a gente vê uma grande desvalorização da arte. Acredito que o Rio (de Janeiro) equivaleria a nossa Califórnia, tem a questão dos artistas e esse lifestyle saudável, pela praia e tudo mais. Mas ainda assim é bem diferente. 

Time Simple: Como você vê esse mercado de beleza nacional?

Renata Kalil: Eu olho pro Brasil com muita empolgação no que se refere ao mercado de beleza brasileiro. Até porque eu vejo muitas novas marcas surgindo, muitas marcas lançando produtos muito bacanas. (...) Lá, em Los Angeles especialmente, quando meus produtos vão acabando e eu vou comprando, muitas vezes eu falo "poxa, preferia comprar de uma marca do Brasil". Muitas vezes eu faço trabalhos com marcas também, e a minha equipe manda pelo correio e eu falo "já me manda aquele outro, outro e outro pra eu não precisar comprar aqui". Quando isso acontece, eu penso "meu deus, que loucura", porque não era assim, né? Então eu vejo sim uma evolução para o bem, até no ponto de vista do consumidor mesmo. Eu fico muito feliz com isso.

(...)

Na Glamour a gente tinha uma edição, quando eu era editora de beleza, que se chamava "Glamour Brasil" na qual a gente trabalhava somente com marcas nacionais, e era um perrengue porque na época não tinha. Hoje é maravilhoso, um mercado super legal (...). Acho que a principal diferença que eu vejo dos Estados Unidos para o Brasil, pelo menos na Califórnia, é o mercado de wellness. Eu tenho a sensação que os produtos wellness no Brasil são muito "para postar no instagram", sabe? Algo muito focado no outro, para "se mostrar". E tudo bem, é algo bem encantador e instagramável mesmo, mas lá fora é uma cultura que a pessoa realmente vive essa rotina de Wellness para ela. Até fiz um post sobre isso no Reset, minha plataforma de conteúdo, sobre suplementos de skincare. Isso é algo que realmente tá bombando, mas na Califórnia isso faz parte há muito tempo da vida deles. 

Time Simple: Lá (Califórnia) eles já esperam por produtos assim e no Brasil nós não temos isso. As marcas estão criando essa conscientização, né. Estão ensinando o consumidor a consumir produtos sustentáveis, e os benefícios para a pele e para o planeta também. As empresas e marcas aqui ainda precisam educar o consumidor.

Renata Kalil: Total! Eu acho também que as marcas brasileiras tem um outro papel que é justamente esse de educar e informar as pessoas, mas isso eu acho bacana, sabe? Acho que hoje nós mudamos o jeito de se informar. Eu, que venho do mercado editorial já vejo: antes eu tinha uma rotina, de ler a revista tal, o jornal tal, e hoje não é mais assim. (...) Outra coisa que eu queria falar, é que lá fora (no exterior), as pessoas esperam das marcas alguma ação filantrópica ou que devolva para o meio ambiente. Hoje, na Califórnia, essas ações são bem características, muitas vezes, ao efetuar sua compra você já vê que valor "X" foi destinado para uma causa "X" e isso é muito bacana, algumas marcas botam até no rótulo dos produtos. Ainda dentro do wellness, a definição de luxo também é diferente lá, acho que a pandemia mudou isso. As pessoas começaram a comprar itens de beleza no mercado, e aí as marcas de luxo começaram a brigar para entrar nos mercados, e a prateleira ficou muito cara para expor os produtos também.

Time Simple: Enquanto aqui, no Brasil, nós temos muito a percepção de democratização da beleza, da matéria-prima. Nós, na Simple Organic, entramos muito com essa pauta e julgamos super importante porque a beleza deve ser acessível a todo mundo. Não basta atender aos consumidores, mas também toda a cadeia produtiva. Agora no Brasil, temos visto várias ações sociais atreladas às marcas também, ações que devolvem para ONGs, várias marcas ligadas a causas sociais.  

Renata Kalil: Sim, e nisso entra o processo de regeneração. A gente tinha uma previsão de que regeneração seria a nova sustentabilidade (...). Além da marca ser livre de crueldade animal, como ela cuida do animal, sabe? Essa relação se aplica a várias causas.

Time Simple: Isso! É ir além do rótulo. E nessa linha de Wellness, que você mencionou, o TikTok, Instagram, nos alimentam diariamente com rituais de beleza nessa pegada, virou uma nova estética. O algoritmo entendeu que as pessoas querem se sentir bem, junto à visão natural. Isso fica nítido quando vemos e repetimos as trends do TikTok. 

Renata Kalil: É claro que a gente trabalha com criação de conteúdo, então a gente tem uma rotina de maquiagem pra mostrar, por exemplo. Ao final da sua rotina, você tem uma maquiagem pronta. Mas se você grava uma rotina de wellness, não tem o que mostrar, você não se conectou com nada, entende? Então tem uma diferença. Se eu me filmar relaxando, eu não estou relaxando, tenha certeza (risos). Tem uma grande diferença entre você fazer as coisas para você e você gravar um conteúdo sobre aquilo. Dá pra fazer os dois, mas são coisas diferentes. Agora fiquei curiosa: vocês consomem mais TikTok ou Instagram?

Time Simple: TikTok (risos)! Ele te entrega coisa que o Instagram não entregaria. Existem pessoas que não tinham dois seguidores ontem, e ai postam um video e da noite pro dia viralizam e ganham milhões! Isso é muito legal e não acontece com o Instagram. 

Renata Kalil: Eu amo o TikTok também! Só vejo TikTok (risos). 

Time Simple: Mudando um pouco a conversa, a gente queria saber como você enxerga a Simple Organic no mercado nacional. 

Renata Kalil: Eu sou suspeita pra falar, né (risos). Eu amo a marca, acho que vocês (o Time da Simple Organic) fazem muito a Simple, vocês e a Pati Lima, fundadora da marca. Sempre que eu saio de conversas com a Patrícia eu sinto que saio com a cabeça fervendo assim, sabendo de muito mais coisas. Isso é raro, não é assim com todo mundo, poucas pessoas tem esse efeito sobre a gente e eu associo muito isso com a relevância, o posicionamento e o efeito que a marca tem além do produto. Sinto que hoje as marcas precisam estar engajadas em causas de verdade, não só o storytelling. Vejo a Simple ocupando muito esse espaço (...). Além disso, a Simple é a única marca de blue beauty no Brasil, que devolve recursos, e isso também é muito interessante. 

Time Simple: Para finalizar, a gente gostaria de saber: o que você diria, voltando agora ao mês de julho e a importância do movimento Plastic Free July, o que você diria para pessoas que querem participar do movimento? Ou até, que querem ir além disso e adentrar um estilo de vida sustentável?

Renata Kalil: Uma coisa que eu acho muito legal que é de falar para as pessoas que estão aqui ouvindo a gente, é que o Julho Sem Plástico é um dos movimentos de maiores relevâncias do mundo no que diz respeito ao meio ambiente. Ele propõe um desafio que é muito possível, de que por um mês só a gente venha a recusar ou até mesmo banir o consumo individual de plásticos de uso único, e o que são esses itens? São os que a gente usa uma vez e joga fora. Eu tenho uma amiga que diz que lixo é um erro de design (risos), que não existe lixo, porque não tem "lá fora" né. Mas enfim, estamos falando de uso único como cotonetes, dentro da beleza ainda as sheet masks, eye pads e tal. O Julho Sem Plástico nem tá pedindo pra gente substituir nossa escova de dentes, por exemplo. Ele está falando de recusarmos aquilo que vamos usar uma vez só, é tão pouquinho e pode ter um impacto tão grande (...). Em 2020, por exemplo, a gente conseguiu economizar 900 milhões de quilos de plástico (...). E depois que termina o mês de julho, você não tem como não pensar nisso, e essa é a parte legal do desafio. Existem muitas formas de você engajar e eu acredito muito no poder da escolha individual. 

"O Julho Sem Plástico nem tá pedindo pra gente substituir nossa escova de dentes, por exemplo. Ele está falando de recusarmos aquilo que vamos usar uma vez só, é tão pouquinho e pode ter um impacto tão grande."

Time Simple: Eu não queria cortar o assunto porque eu acho que tá tão bacana e pela gente nós ficaríamos aqui três horas conversando (risos), mas acho que vamos finalizar por aqui. Muito obrigada! 

Renata Kalil: Adorei a conversa! Obrigada pelo convite, meninas. 

Para conferir a entrevista na íntegra, clique aqui e acesse o Simple Talks, nosso Podcast na plataforma Spotify.

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