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The Simple Talks: Simple Organic + Think Olga

A nossa entrevistada de hoje é a Maira. Ela é jornalista, pós graduada em planejamento estratégico, e hoje ela atua na frente das organizações da Think Olga e da Think Eva. A Think Olga é uma ONG com o objetivo de fazer a comunicação de impacto e de catalizar mudanças na vida das mulheres.

Time Simple: Oi, Maira! Tudo bem?

Maira: Tudo bem e vocês? Prazer, é uma honra estar aqui com vocês hoje. 

Time Simple: Tudo bem! A gente queria saber mais sobre o seu trabalho, seu repertório profissional que é bem extenso (risos). 

Maira: Sim! Eu sou jornalista de formação, trabalhei algum tempo em redações de jornais. Migrei para a área de relações públicas e universo das marcas nesse trabalho. Entender as questões que envolvem o branding e o relacionamento de marcas. Me mudei para Barcelona em 2007 onde eu fiz a pós em planejamento estratégico de comunicação para aprofundar esse conhecimento e entender como eu poderia ajudar em fazer essa conexão entre quais são os valores do tempo, mas que são os meus valores também, aos valores das marcas para as próprias pessoas. Então passei esse tempo lá, tive algumas experiências em empresas lá, em pesquisa e tudo mais, e quando eu voltei pro Brasil passei algum tempo em consultorias, projetos muito ricos, até decidir colocar esse conhecimento a serviço do feminismo. Foi aí então que eu, Nana Faria e a Juliana Lima, formamos a Think Eva, e a Think Eva existe para entregar essa inteligência em forma de planejamento para que as marcas possam ajudar as mulheres de uma forma muito mais humana, cuidadosa e respeitosa. Mudar um pouco a cara dessa publicidade que geralmente vem carregada de estereótipos e opressão. E é isso! A Think Eva nasceu em 2015 juntamente à Think Olga que foi fundada um pouquinho antes, que como você mesma disse é uma ONG, então as duas tem a mesma missão. Uma fala sobre a sociedade civil, governos e imprensa, e outra fala com o corporativo. 

Time Simple: Aqui na Simple, nosso time é mais de 90% feminino, então a gente acha que tem tudo a ver. Queríamos já dar início ao tema de relacionamento abusivo. Pra começar, a gente queria falar sobre os sinais que uma pessoa pode dar, já no início, que são as chamadas red flags. Então a que tipo de sinal, alguém que está entrando num relacionamento, deveria ficar de olho para evitar de se relacionar com alguém abusivo?

Maira: A violência contra a mulher se expressa de inúmeras formas e muito particulares. Não acho que exista uma receita de bolo apesar de que alguns sinais são sim bem indicadores de que o relacionamento pode estar indo para um lado abusivo. Essa percepção de pertencimento, "de que você é minha, você me pertence, você deve a mim. Preciso saber 24h por dia onde você está, com quem você está, eu controlo com quem você está, eu não gosto das suas amigas". Existem sinais de isolamento social e psicológico que essa mulher começa a viver em que a única interlocução com o mundo lá fora passa a ser esse homem, então a autonomia e a liberdade da mulher é colocada em questão. "Você não pode usar essa roupa, você não pode sair com essa amiga, você não pode se comportar dessa maneira, você está olhando para outro homem enquanto está comigo." Esses são sinais de uma relação desequilibrada e que tende a violência. 

"Existem sinais de isolamento social e psicológico que essa mulher começa a viver em que a única interlocução com o mundo lá fora passa a ser esse homem, então a autonomia e a liberdade da mulher é colocada em questão".

Time Simple: Isso é um pouco complicado, né? Na sociedade patriarcal que a gente vive, esses comportamentos, para muitas mulheres é normal. Estamos acostumadas a ser podadas, então saber que a nossa liberdade está acima de tudo é muito importante mesmo. 

Maira: Exato! E é muito complexo porque essas questões vem com outros nomes, outras roupagens. Então é aquela questão de "ah eu te amo muito, quero cuidar de você, tenho ciúmes de tanto que eu quero você...", isso tudo fere a autonomia e a liberdade dessa mulher, então são sinais muito claros de que existe uma tendência a um relacionamento abusivo. É um processo que tá muito enraizado na sociedade, como você mesma falou, ligado a um amor romântico. Então "ah, eu vou ter um parceiro que vai cuidar de mim, me proteger", são raízes muito profundas. 

Time Simple: E além disso, a gente vê isso no cinema de uma maneira muito romantizada. Muitos casais com comportamentos masculinos extremamente abusivos que são romantizados, e isso é muito problemático. 

Maira: É cultural, e agora temos alguns instrumentos legais que podem nos ajudar, e é muito importante falar deles também, a própria Lei Maria da Penha. Quando a gente fala de violência doméstica, a gente tende a pensar em violência física. A violência doméstica se expressa de várias formas, as mais conhecidas são cinco: a violência física; a violência sexual, em que a mulher é forçada a ter relação sexual sem consentimento e sem vontade; a violência patrimonial, em que ela tem suas finanças e autonomia financeira controlada ou polida pelo marido; a violência psicológica, que é uma mulher que está isolada, privada de liberdade de relacionamento inclusive com suas amigas. É muito importante que a gente tenha conhecimento de todas para ajudar a caçar esses sinais. Que a gente não ache que violência doméstica está restrita a violência física, ela vai muito além disso.

Time Simple: Acho importante também as pessoas de modo geral entenderem como que a sociedade é articulada para que isso se perpetue. As mulheres são ensinadas desde muito cedo que elas precisam ter um companheiro, elas precisam de alguém. E ao mesmo tempo é ensinado para o homem que ele tem essa posse, e que ele tem o direito de "controlar" essa mulher. A masculinidade do homem é colocada a prova diante disso. Perceber esse ciclo e entender a forma que ele funciona é necessário para que todas as pessoas tenham acesso a esse tipo de informação. Aqui estamos falando numa situação de privilégio na qual a gente pode parar pra falar desse assunto, mas a gente sabe que a realidade da maioria das pessoas é outra. Muitas pessoas nunca pararam pra pensar nesse tipo de coisa, não tem acesso a dados.
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Algo muito importante para alguém que está entrando num relacionamento, uma dica que eu daria, é se atentar ao comportamento dessa pessoa com outras pessoas. Como ele trata a família, as amigas... Dificilmente essa pessoa vai demonstrar sinais abusivos no início, então tem que ficar atenta a isso. 

Maira: É exatamente isso. É muito difícil de perceber, então isso leva a essas "armadilhas" de cair em um relacionamento abusivo. E existe um código velado na sociedade de que em briga de marido e mulher não se mete a colher, né, como se fosse um problema privado, e não é, é um problema social, e é um problema de toda a sociedade. Então enquanto a gente estiver falando sobre a mulher que está num relacionamento, e só ela, você vai estar ajudando a mulher em situação de violência, mas você não vai estar impedindo que as pessoas entrem em situações de violência. Esse debate precisa ser amplo, ele precisa ter gente de todas as esferas participando: as empresas, o governo federal, a sociedade civil, a mídia, as escolas. Precisamos de uma Força Tarefa de toda a sociedade para acabar com essa pandemia dentro da pandemia que já existe desde sempre, e se agravou agora, e que precisa ser olhada com a tamanha responsabilidade que exige. Não com essa distância que todos olham de que em briga de marido e mulher não se mete a colher. 
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Eu gosto de pensar em onde a gente estava 40 anos atrás e onde a gente está hoje. Nós costumamos chorar as nossas perdas, que são inúmeras, mas o que vai nos dar força para continuar é saber que nós não estamos parados. Existe um caso muito emblemático, eu estava até falando pra minha mãe de todo esse retrocesso que a gente tá vivendo e ela disse: minha filha, olha em perspectiva, pensa que a gente teve um Doca Street e a Angela Dini, assassinada por ele, que foi culpada pelo seu próprio assassinato enquanto o assassino foi louvado, endeusado. Isso não faz nem tanto tempo. Minha mãe disse que assistiu aquilo acontecer indignada e hoje, quando ela olha para situações recentes, como o caso do DJ, que está sofrendo as consequências profissionais, legais, sociais, sobre um ato hediondo como esse, é legal ver como a gente avançou! Não podemos perder essa perspectiva, nem desanimar. 

Time Simple: Puxando esse assunto de que "em briga de marido e mulher não se mete a colher", nós vimos que na pandemia houve grande aumento no número de feminicídio por conta das pessoas dentro de casa o tempo inteiro. Então como você acha que pessoas próximas a vítima, como amigos e vizinhos podem prestar apoio da melhor forma possível sem piorar a situação? Sabemos que muitas vezes a vítima não denuncia com medo de que algo pior aconteça depois. 

Maira: É super importante isso que você trouxe. Vou inclusive recomendar um conteúdo que nós acabamos de lançar, que é um Manual de bolso para pessoas em situação de violência. A gente dá caminhos e orientações à pessoas que estejam vivenciando ou presenciando situações de violência. Se você está vendo sua filha, mãe, irmã, amiga, passando por isso, o que pode ser feito? Esse manual indica opções de maneiras que, como você mesma trouxe, não irão agravar a situação da vítima. Existem canais de diálogos abertos, que você pode vir a conversar com essa mulher, pois muitas vezes devido ao isolamento ela não conversa com ninguém. Você pode se colocar como o número de emergência que ela pode ligar caso ela esteja em perigo, fornecer informações, amparo e encaminhamento psicológico. Discar 180 - é importante martelar esse número na cabeça das pessoas pois esse é o número público que vai oferecer essa rota de saída para essa mulher -. É importante saber diferenciar: quando ela está vivendo uma situação de violência no momento exato, uma emergência, o número é 190, a polícia. Quando ela está vivendo a situação e quer sair, precisa de apoio e auxílio, que existem as casas, o amparo legal, os serviços sociais, é o 180. 
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Algumas dicas à vítima são: não ter objetos cortantes e pontiagudos em casa, esconder uma chave reserva em um local que só você saiba, em caso de ficar trancada. É importante ter rotas de fuga, e essas dicas você consegue no nosso manual.
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Sair sozinha de uma situação de violência é muito difícil. Por isso dizemos que precisamos da sociedade inteira implicada, para que não aconteça mais e para que essa mulher seja amparada, recebida e que ela possa reconstituir sua vida após o fim do relacionamento. 

"É importante saber diferenciar: quando ela está vivendo uma situação de violência no momento exato, uma emergência, o número é 190, a polícia. Quando ela está vivendo a situação e quer sair, precisa de apoio e auxílio, que existem as casas, o amparo legal, os serviços sociais, é o 180."

Se você está passando por situação de violência doméstica, ou conhece alguém que esteja passando por esse problema, denuncie. 

Para a entrevista completa, clique aqui e acesse nosso podcast no Spotify. 

Guia de Bolso Think Olga: o que fazer em casos de violência?  

SIMPLE ORGANIC + THINK OLGA: 5 ONGS DE COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

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